A Grande fome de 1845–1849 na Irlanda (em irlandês: An Gorta Mór ou A Grande Fome ) foi um período de fome, doenças e emigração em massa entre 1845 e uma data variável entre 1849 e 1852,em que a população da Irlanda se reduziu entre 20 e 25 por cento. A fome provocou a morte a cerca de um milhão de pessoas e forçou mais de um milhão a emigrar da ilha. A causa mais próxima da fome foi uma doença provocada pelo oomiceto Phytophthora infestans, que contaminou em larguíssima escala as batatas em toda a Europa durante a década de 1840. Apesar de a Europa inteira ter sido atingida, um terço de toda a população da Irlanda dependia unicamente de batatas para sobreviver, e o problema foi exacerbado por vários fatores ligados à situação política, social e econômica que ainda são matéria de debate na comunidade acadêmica. .
A fome foi um choque social na história da Irlanda:os efeitos alteraram para sempre o plano demogroáfico, político e cultural irlandês. Entrou para a memória popular, sendo desde então um dos pontos mais lembrados pelos movimentos nacionalistas irlandeses. A história da Irlanda geralmente é dividida entre os períodos "pré-fome" e "pós-fome". A grande fome é também recordada como a maior catástrofe demográfica a atingir a Europa entre a Guerra dos Trinta Anos e a Primeira Guerra Mundial, com um excesso de mais de um milhão de mortes na Irlanda em relação ao expectável se não tivesse existido.
Causas e fatores que contribuíram para a fome
Desde 1801 a Irlanda era governada segundo o Ato de União de 1800, como parte do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda. O poder executivo estava nas mãos do Lorde Tenente da Irlanda e do Secretário Geral da Irlanda, os dois apontados no cargo pelo Governo Britânico. A Irlanda enviou 105 membros do parlamento para a Câmara dos Comuns do Reino Unido, e os representantes irlandeses elegiam entre si 28 membros para um cargo perpétuo na Câmara dos Lordes. Entre 1832 e 1859, 70% dos representantes irlandeses eram donos de terras ou filhos de donos de terras.
Nos 40 anos de união que se seguiram, os sucessivos governos britânicos tentaram resolver os problemas de governação de um país que, de acordo com Benjamin Disraeli em 1844, tinha "uma população morrendo de fome, uma aristocracia ausente, uma Igreja alienígena, além do mais fraco governo executivo do planeta."Um historiador calculou que entre 1801 e 1845 houve 114 comissões e 61 comitês especiais que visitaram o estado da Irlanda e "todos sem exceção profetizavam um desastre; a Irlanda estava à beira de uma fome em massa, a população crescendo rapidamente, três quartos dos trabalhadores desempregados, péssimas condições de habitação e nível de vida inacreditavelmente baixo." Isso era um contraste com o estado britânico, que tinha começado a aproveitar a prosperidade moderna da Era Vitoriana e a Era Industrial. Leis contra a educação católica e a posse de terras tornavam esse progresso impossível na Irlanda, até o código penal ser abolido 50 anos após a fome, mas a recuperação da economia foi lenta , devido às famílias donas de terra terem continuado com suas propriedades.
Donos de terra e propriedades
A emancipação católica foi atingida em 1829. Os católicos eram aproximadamente 80% da população, a maioria vivendo em condições de pobreza e insegurança. No topo da pirâmide social estava a classe ascendente protestante, os ingleses e as famílias anglo-irlandesas, que eram donas da maiorias das terras, e que tinham poder ilimitado sobre seus domínios. Algumas dessas propriedades eram vastas: por exemplo, o Conde de Lucan era dono de 24 000 hectares. Muitos desses donos de terras viviam em Inglaterra e eram chamados de "aristocracia ausente". Eles usavam agentes para administrar suas propriedades, e o lucro era enviado para a Inglaterra. Uma boa parte deles nunca chegou a ir à Irlanda. Pagavam salários mínimos para plantação ou criação de gado, para exportação.
Em 1843, o governo britânico considerou a questão de terra a principal causa dos problemas no país, e foi criada uma Comissão Real, liderada pelo Conde de Devon, para fazer um inquérito das leis sobre a ocupação de terras na Irlanda. Daniel O'Connell descreveu a comissão como totalmente tendenciosa, composta apenas por donos de terras. Em Fevereiro de 1845, Devon relatou que era "impossível descrever adequadamente as privações que os trabalhadores irlandeses e suas famílias aguentavam… em muitos distritos seu único alimento era a batata, e sua única bebida a água… seus barracos mal protegiam contra o tempo… cama ou cobertor era luxo… e quase em todas, seus porcos e pilhas de excremento consistiam sua única propriedade". Os comissionados concluíram que não "podem esquecer a enorme paciência que a classe trabalhadora tem mostrado ao aguentar um sofrimento maior, nós acreditamos, que qualquer povo de qualquer país da Europa tem que sustentar".
A comissão concluiu que a principal causa era a péssima relação dos donos de terra com seus empregados. Não existia realeza hereditária, laço feudal ou paternalismo como na Inglaterra. A Irlanda era um país conquistado, como se depreende do discurso do Conde de Clare sobre os donos de terras: "o título é confiscar a terra". De acordo com Woodham-Smith, os donos de terra irlandeses achavam que as suas terras eram apenas fonte de riqueza de onde se devia extrair a maior quantidade de dinheiro possível, com os irlandeses "expressando seu descontentamento em quieta indignação". De acordo com o Conde de Clare, a Irlanda era um lugar hostil para se viver, e como consequência a aristocracia ausente era comum, com alguns visitando suas propriedades apenas uma ou duas vezes em suas vidas. O dinheiro do aluguel das terras era todo gasto na Inglaterra, sendo estimado que um total de seis milhões de libras foram enviados para fora da Irlanda apenas em 1842. A coleta desses valores ficava nas mãos dos agentes dos donos das terras, cujo talento era avaliado de acordo com a quantidade de dinheiro que conseguiam extorquir às pessoas.
Durante o século XVIII um novo sistema para negociar com os donos de terra foi criado, o sistema do "intermediário". Isto garantia aos donos de terra um fluxo contínuo de rendimento, e lhes retirava qualquer responsabilidade; o locatário porém era sujeito a humilhações pelo intermediário. Descritos pela comissão como os "mais opressivos tiranos que ajudaram à destruição do próprio país", eram descritos como "tubarões de terra" e "vampiros".20
O intermediário alugava grandes quantidades de terra dos donos a uma taxa plana, que era definida como eles bem entendiam. Então dividiam essa terra em vários pequenos lotes para aumentar a quantidade de aluguéis que podiam obter, um sistema conhecido como germinação. Os locatários podiam ser expulsos por razões como não pagamento dos aluguéis, que eram extremamente altos, ou pela decisão do dono da terra de criar ovelhas em vez plantar grãos. O locatário pagava o aluguel trabalhando para o dono da terra.
Qualquer melhoria feita nas propriedades era tornada automaticamente propriedade dos donos das terras quando o contrato terminava, o que agia como um desestimulante para melhorias. Os locatários não tinham nenhum tipo de segurança em relação à terra, e podiam ser expulsos a qualquer momento. Esta classe de locatários formava a maioria dos camponeses na Irlanda, exceto no Ulster, onde existia uma prática conhecida como "direito do locatário", onde os locatários eram compensados por qualquer melhoria feita na propriedade feita por si. Os comissários disseram, de acordo com Woodham-Smith, que "a superior prosperidade e tranquilidade de Ulster, comparada à do resto da Irlanda, era devida ao direito do locatário".
Os donos de terra da Irlanda usavam os seus poderes sem nenhum remorso, e as pessoas temiam-nos. Nessas circunstâncias, diz Woodham-Smith, a "indústria e as empresas eram extintas, e os camponeses criados eram por isso dos mais destituídos da Europa".
Locatários, subdivisões e falências
Em 1845, 24% de todas as fazendas de locatários irlandeses tinham área entre 0,4 e 2 hectares, enquanto 40% iam de 2 até 6 hectares. As propriedades eram tão pequenas que davam apenas para plantar batata, pois nenhuma outra plantação rendia o suficiente para sustentar uma família. O governo britânico sabia que um pouco antes da Grande Fome a pobreza era tão generalizada que um terço de todos os fazendeiros de pequeno porte não podiam nem mesmo sustentar suas famílias, após pagar o aluguel, a não ser através de ganhos do trabalho sazonal feito na Inglaterra e na Escócia. Após a fome, reformas foram feitas proibindo a divisão de terras até um certo tamanho.
O censo de 1841 mostrou uma população de apenas 8 milhões, dos quais dois terços dependiam da agricultura para sobreviver, mas raramente recebiam um salário para trabalhar. Estes tinham que trabalhar para os donos de terra em troca do seu próprio pedaço de terra, assim conseguindo plantar alimentos suficientes para as suas famílias. Esse sistema forçou os irlandeses a praticar a monocultura, e apenas a batata rendia quantidades suficientes para sustentar toda uma família. O direito por um pedaço de terra podia ser a diferença entre a vida e a morte na Irlanda no início do século XIX.
Dependência da batata
A batata foi introduzida na Irlanda como planta de jardim. Em finais do século XVII tornar-se-ia um alimento suplementar, enquanto a dieta principal ainda era baseada em pão, leite e produtos baseados em grão de cereal. Nas primeiras duas décadas do século XVIII a batata passou a ser o alimento de base dos pobres, principalmente no inverno. A expansão da economia entre 1760 e 1815 viu as batatas ocuparem o lugar de alimento principal durante todo o ano em todas as pequenas propriedades rurais.
«As terras de pasto célticas da… Irlanda foram usadas para pasto de vacas durante séculos. Os britânicos colonizaram… os irlandeses, transformando a maior parte do campo em uma vasta terra de pasto para criar gado para um mercado consumidor faminto em casa… O gosto britânico por carne teve um impacto devastador para as pessoas pobres e desafortunadas da… Irlanda… Retirados das melhores terras e forçados a plantar em pequenos pedaços de terra marginal, os irlandeses recorreram à batata, uma colheita que podia ser produtiva em solo pouco favorável. Eventualmente, as vacas tomaram a maior parte da Irlanda, deixando a população nativa virtualmente dependente da batata para a sobrevivência.»—Jeremy Rifkin, Beyond Beef (pp. 56–57)26
A peste da batata na Irlanda
Antes da chegada da doença Phytophthora infestans, existiam apenas duas doenças principais da planta da batata. Uma era conhecida como 'dry rot' e a outra era um vírus, conhecido como 'curl'.
No censo de 1851 da Irlanda feito pelos comissários anotaram-se 24 falhas na lavoura de batata desde 1728, com vários graus de gravidade. Em 1739 a lavoura foi completamente destruída, e novamente em 1740. Em 1770, a lavoura falhou novamente. Em 1800 houve outra falha generalizada, e em 1807 metade da lavoura foi perdida. Em 1821 e 1822, a lavoura de batata falhou completamente em Munster e Connacht, e 1830 e 1831 foram anos de falha nos condados de Mayo,Donegal e Galway. Em 1832, 1833, 1834 e 1836 um alto número de distritos sofreram sérias perdas, e em 1835, a lavoura falhou em Ulster. Em 1836 e 1837, houve falhas extensivas por toda Irlanda e novamente em 1839, onde a falha foi universal em todo país. Tanto 1841 e 1844 a falha da lavoura foi generalizada. De acordo com Woodham-Smith, "a falta de confiança na lavoura de batata era um facto já reconhecido na Irlanda".
Não se sabe ao certo quando e de que modo a peste Phytophthora infestans atingiu a Europa, mas de acordo com P.M.A. Bourke, a praga certamente não estaria presente antes de 1842, e provavelmente chegou em 1844. Pelo menos uma das fontes de infestação sugere como local de origem a região dos Andes, em particular o Peru. A praga deve ter vindo para a Europa em navios de carga de guano, que era usado como fertilizante na Europa.
Em 1844, jornais irlandeses traziam relatórios sobre a doença que há dois anos atacava a lavoura de batatas nas Américas. De acordo com James Donnelly, uma fonte provável foi o leste dos Estados Unidos, onde em 1843 e 1844 a peste devastou a cultura de batatas, sugerindo que navios de Baltimore, Filadélfia ou Nova Iorque poderão ter trazido a doença para os portos europeus . W.C. Paddock sugere que ela foi transportada em batatas usadas para alimentar passageiros nos navios de imigrantes.
Quando a peste foi introduzida, rapidamente se espalhou. Pelo final do verão e início do outono de 1845, já tinha atingido a Europa Central. A Bélgica, os Países Baixos, o norte da França e o sul da Inglaterra, em meados de agosto estavam atingidos.
Em 16 de agosto, o Gardeners' Chronicle and Horticultural Gazette publicou um artigo que descreveu uma peste de caráter não usual na Ilha de Wight. Uma semana depois, em 23 de agosto, foi relatado que uma doença assustadora apareceu nas lavouras de batatas… na Bélgica foi dito que os campos estão desolados. Não existe uma única amostra saudável no mercado de Covent Garden… Sobre a cura para este destempero, não existe… Estes artigos foram publicados extensivamente pelos jornais Irlandeses.Em 13 de setembro, o Gardeners' Chronicle fez um anúncio dramático: Nós paramos a prensa com muito pesar para informar que a doença foi inequivocamente declarada na Irlanda. O Governo Britânico está otimista apesar disto sobre as próximas semanas.
A perda das culturas em 1845 foi estimada em 50% até um terço.O comitê da Casa de Mansion em Dublin, para onde centenas de cartas de toda Irlanda estavam endereçadas, declarou em 19 de novembro de 1845 que sem sobra de dúvida mais de um terço de toda a produção de batata fora destruída.
Em 1846 três quartos das colheitas foram perdidas devido à peste.Em Dezembro, um terço de milhão de pessoas destituídas foram empregadas pelo serviço público. De acordo com Cormac Ó Gráda, o primeiro ataque da peste causou dificuldades consideráveis na Irlanda rural, no outono de 1846, e as primeiras mortes por fome foram registradas.Batatas para plantio estavam em falta em 1847, e poucas germinaram, então a fome continuou. Em 1848, a produtividade foi apenas dois terços do normal. Mais de 3 milhões de Irlandeses eram dependentes de batatas para alimentação, então fome e mortes eram inevitáveis.
Reação na Irlanda
A Corporação de Dublin enviou um memorial à rainha Vitória, "rezando para ela convocar o Parlamento antecipadamente "(o Parlamento estava em recesso na época), e recomendar a requisição de dinheiro para obras públicas, especialmente ferrovias, na Irlanda. O Conselho da Vila de Belfast se reuniu, e fez sugestões similares, mas nenhuma das duas associações pediu por caridade, de acordo com Mitchel. "Eles demandavam que, já que a Irlanda era efetivamente parte integral do reino, as contas unidas das duas ilhas deveriam ser usadas, não por caridade, mas para prover empregos em obras públicas de utilidade comum". Era a opinião de Mitchel que "se Yorkshire e Lancashire na Inglaterra tivessem sustentado uma calamidade similar, sem dúvida essas medidas teriam sido tomadas, rápida e livremente".
Um conselho de cidadãos de Dublin, incluindo Augustus FitzGerald, Valentine Lawless e Daniel O'Connell, dirigiram-se ao Lorde Tenente da Irlanda e ofereceram sugestões, como abrir os portos para grãos importados durante algum tempo, parar a destilação de grãos ou promover obras públicas. Isto era extremamente urgente, já que milhões de pessoas logo estariam sem alimentos. O Lorde Heytesbury afirmou-lhes que tal "era prematuro", e pediu para que não ficassem alarmados, que estudiosos (Playfair e Lindley) foram mandados da Inglaterra para verificar esses factos, e que inspetores estavam enviando relatórios constantemente sobre seus distritos, além de não existir pressão iminente nos mercados. Desses relatórios do Lorde Haytesbury, Peel, numa carta para Sir James Graham, disse que as notícias eram alarmantes, mas lembrou que, de acordo com Woddham-Smith, "sempre existe uma tendência das notícias serem exageradas na Irlanda".
Em 8 de dezembro de 1845 Daniel O'Connell propôs os seguintes remédios para o desastre iminente. Uma das primeiras coisas que ele sugeriu foi a introdução do "Direito do Locatário" como era praticado no Ulster, dando ao dono da terra um generoso aluguel, mas dando ao locatário uma compensação para qualquer dinheiro que ele tenha gasto na terra para melhorias.O'Connell sugeriu então o uso das técnicas legislativas belgas durante a mesma temporada: fechar os portos contra a exportação de provisões, mas abrir para as importações. Ele sugeriu que se a Irlanda tivesse um Parlamento doméstico os portos poderiam ser abertos e as lavouras abundantes, plantadas na Irlanda ficariam para os irlandeses. O'Connell manteve que apenas um Parlamento Irlandês poderia prover as pessoas tanto com alimentos como com empregos, pedindo a destruição do ato de união de 1800.
John Mitchel, um dos principais escritores políticos irlandeses, em meados de 1844, no jornal irlandês A Nação levantou a questão da "Doença da batata" na Irlanda, notando o quão poderoso a fome era em certas revoluções. Em 14 de fevereiro de 1846 revelou sua visão sobre "a maneira escancarada que a fome estava se formando", e perguntou, por que o governo nem ao menos tinha uma concepção de que logo "milhões de seres humanos na Irlanda nada teriam para comer".
Em 28 de fevereiro, escrevendo sobre o plano de ajuda em votação na Câmara dos Lordes, ele notou que esse tipo de projeto não iria sofrer obstruções. Em sua visão, porém, o governo iria divergir em como eles deveriam alimentar a população irlandesa".
No artigo "English rule" de 7 de março de 1846, Mitchel publicou que o povo irlandês estava "esperando a fome dia após dia" e a atribuíram coletivamente não tanto "ao governo dos Céus mas à ganância e política cruel da Inglaterra". Continuou no mesmo artigo dizendo que as pessoas "acreditavam que a permanência enquanto decorria era nada mais que a rapacidade da Inglaterra; que suas crianças não se podiam sentar devido à fome, mas viam a voraz garra da Inglaterra em seu prato". As pessoas, Mitchel disse, viam "os seus alimentos apodrecerem na face da terra", tudo enquanto assistiam a "pesados navios, lotados de milho que suas próprias mãos plantaram e colheram, levantando vela para a Inglaterra".47
Mitchel então escreveu sobre uma das primeiras descrições populares da fome, The Last Conquest of Ireland (Perhaps) em 1861, e estabeleceu a visão popular na Irlanda que o tratamento da fome pelos britânicos era assassinato deliberado dos irlandeses. Por isto ele foi processado por sedição, mas foi absolvido pelo júri. Então ele foi processado novamente por traição, e condenado para um exílio de 14 anos nas Bermudas.
O jornal irlandês A Nação, de acordo com Charles Gavan Duffy, insistiu que um dos remédios que o resto da Europa tinha tomado em períodos de desespero era o de manter todo o alimento produzido no país, para alimentar o próprio povo.
A Irlanda era, de acordo com o Ato de União de 1801, parte integral do Império Britânico, "o mais rico império do planeta", e "a parte mais fértil do império". E ainda assim, os representantes eleitos da Irlanda aparentavam estar sem poder para agir em nome do país no Parlamento Britânico. Comentando sobre isto, John Mitchel escreveu: "A ilha era dita pertencer ao Império mais rico do planeta... poderia em cinco anos perder dois milhões e meio de sua própria população (mais de um quarto) pela fome, doenças consequentes da fome e emigração para escapar da fome..." .
O período da peste da batata na Irlanda, de 1845 até 1851, foi cheia de confrontos políticos. O movimento de massas Repeal Association declarou que o Ato de União tinha falhado em seus objetivos. O grupo mais radical Jovem Irlanda se separou da Repeal Association e tentou uma rebelião armada em 1848, que falharia.
Resposta do governo
Reação do governo de Robert Peel
Francis Lyons caracterizou a resposta inicial do governo Britânico na parte menos severa da crise como "rápida e relativamente bem sucedida". Confrontado com a quebra generalizada das lavouras no outono de 1845, o chefe do governo, Sir Robert Peel, comprou secretamente à América 100 000 libras de milho indiano e farinha de milho. A Baring Bros & Co agiu como agente do governo. O governo esperava que isto serviria para não desestimular as tentativas privadas de ajuda. Devido às condições do tempo, os primeiros navios não chegaram à Irlanda senão no início de fevereiro de 1846.
Este milho então era revendido por um centavo. O milho não havia sido processado e esta tarefa envolvia um longo e complicado processo, que dificilmente iria ser feito localmente. Em adição, antes que os alimentos indianos pudessem ser consumidos, ele tinha que ser cozinhado novamente. Em 1846 Peel aboliu as leis do trigo, tarifas que mantinham o preço artificialmente alto. A situação da fome piorou em 1846 e o fim dessa lei pouco ajudou os irlandeses. E isto ainda dividiu o Partido Conservador, levando à queda de Peel. Em Março, Peel criou um programa de obras públicas, mas foi forçado a resignar em 29 de Junho. A queda na prática foi em 25 de Junho, quando ele foi vencido na Câmara dos Comuns. Dez dias depois, o Lorde John Russell assumiu o cargo.
Reação do governo de John Russell
Os atos do sucessor de Peel, Lord John Russell, revelar-se-iam comparativamente inadequados, enquanto a crise piorava. Russell introduziu vários projetos públicos, que até dezembro de 1846 empregaram meio milhão de irlandeses e se provaram impossíveis de administrar, Sir Charles Trevelyan, que estava encarregado da administração da ajuda do Governo para as vítimas da fome, na verdade limitou a ajuda, acreditando que "o julgamento de Deus enviou essa calamidade para ensinar aos irlandeses uma lição". Por essa política, ele foi "homenageado" na canção popular irlandesa The Fields of Athenry. Os projetos públicos eram estritamente ordenados de maneira que fossem improdutivos, isto é, eles não gerariam fundos para pagar as próprias despesas. Centenas de milhares de homens doentes e famintos, de acordo com John Mitchel, eram mantidos cavando buracos, quebrando estradas, tudo atividade inútil.
A nova administração dos Whig durante o governo de Russell, influenciado pela sua crença no laissez-faire de que o mercado proveria os alimentos necessários, mas ao mesmo tempo ignorando as exportações de alimentos para a Inglaterra, então parou as obras do governo, deixando as pessoas sem trabalho, dinheiro ou alimentos.60 Em Janeiro, o governo iniciou um programa de ajuda direta, parte administrado pelo sistema Poor Law Inglês, juntamente com sopas distribuídas de graça. Os custos do Poor Law recaiam principalmente nos donos de terra local, que tentavam reduzir seus problemas expulsando os moradores locatários de suas terras.57 De acordo com James Donnelly,o sistema era organizado assim devido a crença Inglesa que a fome irlandesa deveria ser financiada pelos ricos da própria Irlanda. Foram os proprietários irlandeses vivendo na Inglaterra que criaram a fome em primeiro lugar.
A cláusula Gregory da Poor Law proibia qualquer um que tinha pelo menos um quarto de acre de receber ajuda. Na prática isso significava que se um fazendeiro, tendo vendido toda produção para pagar seu aluguel e taxas, ele estaria reduzido, assim como milhares na mesma situação, a pedir ajuda, mas não recebia nada até entregar toda sua terra de volta ao proprietário. Por essa regra, Mitchel escreveu "apenas o vagabundo saudável era para ser alimentado - se ele tentasse puxar um arado de terra, ele morreria". Esse método era chamado "passar um paupérrimo pela casa de trabalho" - um homem entrava, um pobre saia. Este fatores se combinaram para o abandono de centenas de lotes de terra por parte das pessoas: 90 000 em 1949, e 104 000 em 1850.
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