quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Idade Média

Idade Média (adj. medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. A Idade Média é o período intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média.
Durante a Alta Idade Média verifica-se a continuidade dos processos de despovoamento, regressão urbana, e invasões bárbaras iniciadas durante a Antiguidade tardia. Os ocupantes bárbaros formam novos reinos, apoiando-se na estrutura do Império Romano do Ocidente. No século VII, o Norte de África e o Médio Oriente, que tinham sido parte do Império Romano do Oriente tornam-se territórios islâmicos depois da sua conquista pelos sucessores de Maomé. O Império Bizantino sobrevive e torna-se uma grande potência. No Ocidente, embora tenha havido alterações significativas nas estruturas políticas e sociais, a rutura com a Antiguidade não foi completa e a maior parte dos novos reinos incorporaram o maior número possível de instituições romanas pré-existentes. O cristianismo disseminou-se pela Europa ocidental e assistiu-se a um surto de edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados peladinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao século IX, quando se desmoronaria perante as investidas de Vikings do norte, Magiares de leste e Sarracenos do sul.
Durante a Baixa Idade Média, que teve início depois do ano 1000, verifica-se na Europa um crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e colheitas. É durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento: o senhorialismo – a organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre – e o feudalismo — uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial o direito a cobrar impostos em determinado território. As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Terra Santa, tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente. A vida cultural foi dominada pela escolástica, uma filosofia que procurou unir a fé à razão, e pela fundação das primeiras universidades. A obra de Tomás de Aquino, a pintura de Giotto, a poesia de Dante eChaucer, as viagens de Marco Polo e a edificação das imponentes catedrais góticas estão entre as mais destacadas façanhas artísticas deste período.
Os dois últimos séculos da Baixa Idade Média ficaram marcados por várias guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas carestias e pestes; só a peste negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350. O Grande Cisma do Ocidente no seio da Igreja teve consequências profundas na sociedade e foi um dos fatores que esteve na origem de inúmeras guerras entre estados. Assistiu-se também a diversas guerras civis e revoltas populares dentro dos próprios reinos. O progresso cultural e tecnológico transformou por completo a sociedade europeia, concluindo a Idade Média e dando início à Idade Moderna.

Evolução do conceito

Os escritores medievais dividiam a História em períodos como as "Seis Épocas", e consideravam a sua a última época antes do fim do mundo, e denominavam-na "moderna". Na década de 1330, o poeta e humanista Petrarca denominava a era anterior ao cristianismo por "antiqua" (ou "antiga") e o período cristão por "nova". O primeiro historiador a definir a periodização tripartida foi Leonardo Bruni na sua História do Povo Florentino em 1442. Bruni, e historiadores posteriores, argumentaram que Itália se tinha desenvolvido significativamente desde o tempo de Petrarca e acrescentaram um terceiro período à sua divisão. O mais antigo registo conhecido do termo Idade Média data de 1469, sendo grafado como media tempestas ou "tempos médios". Durante a sua introdução, foi comum a coexistência de várias variantes, como medium aevum, registada em 1604, ou media scecula, registada em 1625. A periodização tripartida tornar-se-ia padrão após a publicação em 1683 da obra História Universal Dividida nos Períodos Antigo, Medieval e Novo da autoria do historiador alemão Christoph Cellarius.

Datas de início e fim

A data consensual para o início da Idade Média é 476,definida pela primeira vez por Bruni  e que representa o ano em que é deposto o último imperador romano do Ocidente.11 No contexto europeu, considera-se normalmente o fim da Idade Média no ano 1500, embora não haja um consenso universal alargado sobre a data.Dependendo do contexto, podem ser considerados como eventos de transição a primeira viagem de Cristóvão Colombo às Américas em 1492, a conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453, ou a Reforma Protestante em 1517. Por outro lado, os historiadores ingleses normalmente referem-se à batalha de Bosworth em 1485 como referência para o fim do período. Em Espanha, é comum o recurso ao ano de 1516, aquando a morte do rei Fernando II de Aragão, ou o ano da morte da rainha Isabel I de Castela em 1504, ou ainda a conquista de Granada em 1492.
Os historiadores de línguas românicas tendem a dividir a Idade Média em duas partes: um primeiro período, a Alta Idade Média e um segundo período, a Baixa Idade Média. Os historiadores anglo-saxónicos dividem normalmente a Idade Média em três segmentos: "Early Middle Ages", ou "idade média arcaica", definido entre 476 e o ano 1000; "High Middle Ages", ou "alta idade média", entre o ano 1000 e 1300; e "Late Middle Ages" ou "Idade média tardia" entre 1300 e 1453. Os termos foram popularizados durante o início do século XX pelo historiador belga Henri Pirenne e pelo holandês Johan Huizinga. Durante todo o século XIX, a Idade Média era frequentemente referida como a "Idade das trevas", mas com a criação de subdivisões o uso do termo ficou restrito ao período arcaico.

Queda do Império Romano


Migrações bárbaras em território romano entre os séculos IV e V
O Império Romano atingiu o seu apogeu e máxima extensão territorial durante o século II, mas durante os dois séculos seguintes verificar-se-ia o lento declínio do domínio territorial romano sobre os seus territórios. A crise econômica, refletida na inflação, e instabilidade nas fronteiras motivada pela pressão de povos invasores, estiveram na origem da crise do terceiro século, períodos em que um vasto número de imperadores ascendia ao trono apenas para ser rapidamente substituído por novos usurpadores. O orçamento militar aumentou constantemente ao longo de todo o terceiro século, sobretudo na sequência de uma nova guerra contra o Império Sassânida, iniciada em meados do século. A necessidade de receitas levou à aplicação de uma sobretaxa fiscal e ao declínio em massa da classe média, proprietária de terrenos e unidades de produção, extinguindo-se assim o financiamento das estruturas administrativas de cada povoação.

Estátua do fim do Império Romano, ilustrando os Quatro Tetrarcas, atualmente em Veneza
No ano de 286, o imperador Diocleciano divide o império em duas metades, oriental e ocidental, administradas separadamente. No entanto, os próprios cidadãos e administradores públicos não viam o seu império como dividido, e as promulgações legais e administrativas de uma parte eram consideradas válidas na outra. Este sistema, que viria a ter dois co-imperadores seniores (augustos) e dois co-imperadores juniores (césares), viria a ser conhecido como tetrarquia.Em 330, depois de um período de guerra civil, o imperador Constantino refunda a cidade de Bizâncio como Constantinopla, a nova e renovada capital oriental. As reformas de Diocleciano criaram uma administração pública forte, a reforma da cobrança de impostos, e o fortalecimento do exército, o que permitiu ganhar algum tempo mas não resolveu por completo os problemas que enfrentava: tributação excessiva, queda da taxa de natalidade e pressão fronteiriça. Em meados do século IV, tornou-se constante a deflagração de guerras civis entre imperadores rivais, retirando forças das fronteiras e dando espaço à infiltração de bárbaros. No século IV, a sociedade romana era já bastante diferente da do período clássico, assistindo-se ao aumento das desigualdades sociais e ao declínio de vitalidade das cidades pequenas. O império converte-se também ao cristianismo, um processo gradual que decorreu entre os séculos II e V.
Em 376, os Ostrogodos, em debanda dos Hunos, são autorizados pelo imperador romano Valente a estabelecer-se na província romana de Trácia, nos Balcãs. O processo não decorreu de forma pacífica, e quando os administradores romanos perderam o controlo da situação, os Ostrogodos deram início a uma série de pilhagens e vandalismos no território. Valente, numa tentativa de fazer cessar a violência, foi morto em combate na batalha de Adrianópolis em Agosto de 378. Para além da ameaça bárbara do norte, constituíram também ameaças à estabilidade as divisões internas dentro do próprio império, sobretudo dentro da Igreja Cristã. No ano 400, os Visigodos invadem o Império do Ocidente e, embora inicialmente repelidos de Itália, em 410 invadem a cidade de Roma. A par destes eventos, em 406 e nos três anos seguintes, os Alanos, Vândalos e Suevos tomam conta do território da Gália, e em 409 atravessam os Pirenéus, instalando-se também na península Ibérica. Vários outros grupos bárbaros tomam igualmente parte nas intensas migrações deste período. Os Francos, Alamanos e Burgúndios têm como destino o norte da Gália enquanto que os Anglos, Saxões e Jutos se estabelecem nas Ilhas Britânicas. Os Hunos, liderados pelo rei Átila, o Huno, organizam invasões aos Balcãs em 442 e 447, à Gália em 451, e a Itália em 452. A ameaça dos Hunos prolongou-se até à morte de Átila em 453, quando a confederação por si liderada se fragmenta. Estes movimentos levados a cabo pelas várias tribos reorganizaram de forma dramática o mapa político e demográfico do que tinha sido o Império Romano do Ocidente.

Império Bizantino com as conquistas deJustiniano (laranja claro)
Por volta do fim do século V, a parte ocidental do império estava já dividida em pequenas unidades políticas, governadas pelas tribos que as haviam ocupado durante o início do século. O último imperador do Ocidente, Rómulo Augusto, foi deposto em 476, evento que leva à adoção consensual desse ano como o fim do Império Romano do Ocidente.  O Império Romano do Oriente, referido como Império Bizantino depois da queda do seu correspondente ocidental, mostrou pouca eficácia no controlo dos territórios ocidentais perdidos. Embora os imperadores bizantinos tenham mantido pretensões territoriais e afirmado que nenhum rei bárbaro podia ousar tornar-se imperador do Ocidente, não conseguiam de forma alguma sustentar qualquer domínio a Ocidente, excetuando-se a reconquista temporária da península Itálica e da periferia mediterrânea por Justiniano.

Alta Idade Média

Novas sociedades


Síliqua de Teodorico, o Grande
A estrutura política da Europa Ocidental alterou-se significativamente com o fim da união do Império Romano. Embora as atividades dos povos bárbaros sejam frequentemente descritas como "invasões", não se trataram de meras campanhas militares, mas sim migrações de populações inteiras para o território do império. A migração foi facilitada pela recusa das elites romanas em financiar o seu exército. Os imperadores do século Veram na maior parte dos casos controlados por militares influentes como Estilicão, Ricimero, Gundebaldo ou Aspar, quase sempre estrangeiros ou de ascendência estrangeira. Após a interrupção da linha de sucessão, muitos dos reis que os substituíram provinham igualmente de forças militares. Era também comum o casamento entre os novos reis e as elites romanas locais. Isto deu origem a uma incorporação gradual dos hábitos das tribos invasoras na cultura romana, incluindo assembleias populares que permitiram aos líderes tribais ter uma voz ativa em matérias políticas. Os artefatos deixados por Romanos ou pelos invasores são na sua maioria similares, sendo nítida a inspiração dos objetos tribais nos modelos romanos.De igual modo, a maior parte da cultura intelectual dos novos reinos baseava-se directamente nas tradições intelectuais romanas. No entanto, uma diferença substancial foi a perda gradual de rendimento tributário em função das novas políticas. Muitas das novas instituições governativas já não financiavam os seus exércitos com o dinheiro proveniente de impostos, mas com a atribuição de terras ou senhorios. Isto levou ao desaparecimento do sistema de colecta de impostos, uma vez que deixou de haver necessidade para cobranças ou cálculos de grande envergadura. O belicismo era comum entre reinos e dentro dos próprios reinos. A escravatura entrou também em declínio, à medida que a oferta se reduzia e a sociedade se tornava cada vez mais rural.

Europa em 526: a Europa Ocidental, antes controlada majoritariamente pelo Império Romano, neste momento estava dividida entre os povos bárbaros que ali se assentaram durante o século V.
Entre os séculos V e VIII, uma nova vaga de governantes preenche o vazio político deixado pela administração central romana. Os Ostrogodos estabelecem-se na província romana de Itália no fim do século V, sob o comando deTeodorico, e dão início a um reino notável pela cooperação entre Itálicos e Ostrogodos, pelo menos durante o seu reinado. Os Burgúndios estabelecem-se na Gália, e depois de um primeiro reino dizimado pelos Hunos em 436, formam um novo na década de 440 entre a atual Genebra e Lyon, e que durante o início do século VI se viria a tornar num dos mais influentes reinos da região. No norte da Gália, os Francos e os Bretões formam pequenos reinos. O Reino Franco centra-se no noroeste da Gália e o primeiro reinante do qual se possui informação relevante é Childerico I, que viria a morrer em 481. Durante o reinado do seu filho, Clóvis I, o reino franco expande-se e converte-se ao cristianismo. Os Bretões, procedentes da Britânia, estabelecem-se no que é hoje a Bretanha. Os Visigodos estabelecem o seu reino em grande parte da península Ibérica, sendo o noroeste peninsular ocupado pelo reino suevo e o norte de África pelo Reino Vândalo. Durante o século VI, os Lombardos estabelecem-se no norte de Itália, substituindo o reino ostrogodo por um grupo de ducados responsáveis pela eleição de um rei comum. Por volta do fim do século VI, este sistema foi substituído por uma monarquia permanente.
A migração europeia significou uma alteração profunda do mapa demográfico da Europa, embora o povoamento não tenha sido homogéneo. Algumas regiões, como a península Ibérica, albergaram um número de colonos muito maior quando comparado com outras regiões. A ocupação da Gália foi também superior e em maior densidade no noroeste do que no sudeste. Os povos Eslavos ocuparam a Europa Central e de Leste até à península Balcânica. Esta migração foi também acompanhada por alterações profundas na língua. O latim, língua oficial do Império Romano do Ocidente, foi gradualmente substituído por várias línguas de raiz latina, embora já bastante distintas, denominadas coletivamente porlínguas românicas. No entanto, a evolução do latim para as novas línguas como o francês, português ou romeno foi um processo que ocorreu ao longo de séculos, e atravessou uma série de fases. O grego permaneceu como língua oficial do Império Bizantino, mas as migrações dos Eslavos permitiram a assimilação de línguas eslavas no leste europeu.

Comércio e economia

As migrações bárbaras dos séculos IV e V interromperam grande parte das rotas comerciais no Mediterrâneo, o que fez cessar a exportação de mercadorias africanas para a Europa. Por volta do início do século VII, apenas em algumas cidades costeiras como Roma e Nápoles era possível encontrar ainda bens importados, embora ao longo de todo o século as conquistas muçulmanas fizessem cessar em definitivo as trocas comerciais de longo curso, fazendo com que durante a Alta Idade Média aumentasse a procura pela produção local, sobretudo nas áreas afastadas do Mediterrâneo. Os bens importados encontrados nos vestígios arqueológicos são fundamentalmente artigos de luxo. Na Europa do Norte, não só as rotas comerciais eram locais, como os bens transportados eram artigos comuns, com poucos objetos cerâmicos ou produtos transformados. Em redor do Mediterrâneo, contudo, o comércio de cerâmica foi comum e realizado a alguma distância, e não apenas de produção local.
Os vários estados germânicos no Ocidente cunhavam moeda segundo os modelos romano e bizantino. O ouro continuou a ser usado até finais do século VII, até ser substituído por moedas de prata. A unidade elementar da moeda de prata Franca era o denier, enquanto que os anglo-saxões usavam o penny, moedas que se disseminaram pela Europa entre os séculos VII e X. Nem o bronze nem o cobre eram usados na cunhagem, e o ouro só continuou a ser usado na Europa do Sul. Também não eram cunhadas moedas com valores múltiplos.

Baixa Idade Média

Sociedade e economia


Iluminura representando três classes sociais da sociedade medieval: o clero religioso, um cavaleiro da nobreza e os camponeses. As relações entre estas classes regia-se pelofeudalismo e senhorialismo.
Durante toda a Baixa Idade média, e até ao surto epidêmico do século XIV, a população Europeia cresceu a um ritmo sem precedentes. As estimativas apontam para um crescimento de 35 para 80 milhões entre os anos 1000 e 1347. Têm sido identificadas como causas prováveis a melhoria nas técnicas agrícolas, a relativa paz e ausência de invasões, o declínio da escravatura e um extenso período de clima moderado e aumento da temperatura média. Apesar deste crescimento, cerca de 90% da população era ainda eminentemente rural embora, de forma progressiva, as quintas isoladas tenham dado lugar a pequenas comunidades como aldeias ou vilas, e tenha sido comum a agregação em volta de propriedades senhoriais. A população urbana, ainda muito escassa durante a Alta Idade Média, cresce assinalavelmente durante os séculos XII e XIII, a par da expansão urbana e da fundação de imensos centros populacionais,embora ao longo de todo o período seja provável que nunca tenha excedido os 10% da população total.
A estrutura social e econômica tinha por base as relações feudais. Embora não fosse proprietária, a nobreza detinha os direitos de exploração e tributação de grande parte dos terrenos agrícolas. Os servos obtinham o direito a cultivar e habitar as terras de determinada família nobre mediante o pagamento de uma renda na forma de trabalho, géneros ou moeda. Em troca, recebiam proteção econômica e militar. Ao longo dos séculos XI e XII, estas terras, ou feudos, tornam-se hereditárias. Em muitas regiões, ao contrário do que acontecia na Alta Idade Média, a dificuldade em dividi-las pelos herdeiros faz com que passem a ser herdadas apenas pelo primogénito .Dentro da própria nobreza, verifica-se a existência de uma hierarquia de vassalagem através da suserania, onde são concedidas terras ou estruturas de importância econômica para exploração a um nobre menor, em troca da sua vassalagem e fidelidade. Durante os séculos XI e XII, a posse destas terras, ou feudos, viria a ser considerada hereditária. No entanto, ao contrário do que sucedia na Alta Idade Média, a maioria dos feudos deixou de ser dividida entre todos os herdeiros para passar a ser herdada em exclusivo pelo filho varão. O domínio da nobreza durante este período deve-se em grande parte ao controlo das terras agrícolas e dos castelos, ao serviço militar na cavalaria pesada e às várias isenções de impostos ou obrigações de que desfrutavam. A introdução da cavalaria pesada na Europa teve origem nos catafractários persas dos séculos V e VI, mas será a introdução do estribo no século VII que virá permitir fazer uso de todo o potencial de combate destas unidades. Em resposta aos vários tumultos dos séculos IX e X, assiste-se a um surto construtivo de castelos, local de refúgio da população em tempos de ataque.
O clero dividia-se entre o secular, parte da comunidade local, e o regular, que vivia numa comunidade fechada segundo uma ordem religiosa e era normalmente constituído por monges. A maior parte dos membros do clero regular, assim como as hierarquias de topo do clero secular, era de origem nobre. Os párocos locais provinham na maior parte das vezes do povo.
Na Flandres e no Norte e Centro de Itália, o crescimento de cidades que eram, até certo ponto, autónomas, proporcionou um significativo desenvolvimento económico e criou uma situação favorável ao aparecimento de novos modelos comerciais. As potências econômicas ao longo do Báltico estabeleceram uma série de acordos que deram origem à Liga Hanseática, e as cidades-Estado italianas como Veneza, Gênova e Pisa criaram uma imensa rede de rotas comerciais por todo o Mediterrâneo. Para além do desenvolvimento comercial, as inovações agrícolas e tecnológicas deste período vieram permitir o aumento da produtividade das explorações agrícolas, levando à criação de excedentes em abundância para trocas comerciais. Surgem também novos processos financeiros. Procede-se novamente à cunhagem de moeda em ouro, inicialmente em Itália e mais tarde em França e no resto da Europa. Surgem novas formas de contratos comerciais, permitindo a gestão de risco entre os mercadores. São aperfeiçoados os métodos de contabilidade e introduzidas as cartas de crédito que vieram permitir a rápida transação monetária nas redes comerciais.
Ao longo da Idade Média, exigia-se que a mulher assumisse um papel de subordinação a um elemento masculino – o pai, o marido ou outro parente. Embora às viúvas fosse permitida bastante autonomia, existiam ainda algumas restrições legais. O trabalho da mulher era na sua maioria ligado às tarefas domésticas. As camponesas assumiam frequentemente a educação das crianças, a jardinagem e a criação de animais nos arredores da casa, podendo complementar o rendimento familiar com fiação fabrico de cerveja em casa. Durante as colheitas, esperava-se que ajudassem no trabalho de campo.A mulher urbana, tal como a camponesa, era responsável pela gestão doméstica, podendo também exercer algumas das atividades comerciais, dependendo do país e do período. As mulheres nobres tinham permissão para governar as terras na ausência do elemento masculino, embora normalmente lhes fosse vedada a participação em assuntos militares e governativos. Entre o clero, apenas podiam assumir o papel de freiras, uma vez que só os Homens se podiam tornar padres.

Formação de Estados

A Baixa Idade Média representa o período determinante na formação dos estados ocidentais europeus. Os reinos de França, Inglaterra e Espanha consolidam o seu poder e definem centros de poder duradouros. Surgem também novas potências na Europa Central como a Hungria e Polônia, após sua conversão ao cristianismo. O Reino da Hungria teve origem nos Magiares, que se estabeleceram no território por volta do ano 900 durante o reinado de Árpád, depois do período de conquista do século IX. O papado, que até então sempre se manifestara independente dos reis seculares, começa a afirmar a sua autoridade temporal sobre a totalidade do mundo cristão. A monarquia papal atinge o seu apogeu durante o início do século XIII durante o pontificado do Papa Inocêncio III. As Cruzadas do Norte e o avanço dos reinos cristãos e ordens militares para regiões pagãs no Báltico e no norte da Escandinávia levou à assimilação forçada de inúmeros povos autóctones na Europa.
Durante o início da Baixa Idade Média, a Alemanha foi dominada pela dinastia saxónica, que lutava ainda pelo controlo dos poderosos ducados locais formados durante as migrações bárbaras dos séculos anteriores. Em 1024, assume o poder a dinastia saliana, que tinha já entrado em confronto aberto com o papado acerca de nomeações eclesiásticas durante o reinado do imperador Henrique IV. Os seus sucessores continuaram o clima de confronto, estendendo-o a parte da nobreza Germânica. Depois da morte do imperador Henrique V, o qual não havia deixado descendência, seguiu-se um período de instabilidade até ao reinado de Frederico I, que toma posse do trono imperial durante o fim do século XII. Embora o seu reinado tenha sido estável, os seus sucessores enfrentam o mesmo clima de instabilidade ainda durante o século XIII. Um dos fatores de maior instabilidade foi a constante ameaça e invasão dos Mongóis no território europeu em meados do século XIII, desde as primeiras incursões no Principado de Kiev até às invasões da Europa de Leste em 1241, 1259 e 1287.

Guilherme, o Conquistador representado na Tapeçaria de Bayeux
Dominada pela dinastia capetiana, a corte francesa aumenta gradualmente a sua influência sobre a nobreza, permitindo-lhe exercer maior controlo nos territórios para além da Ilha de França do que durante os séculos XI e XII. No entanto, encontrariam resistência por parte dos Duques da Normandia, que em 1066 tinham já subjugado grande parte de Inglaterra e criado um império em ambas as margens do canal que duraria até ao fim da Idade Média. Durante a dinastia Plantageneta do rei Henrique II e dos seus sucessores, o reino dominaria a totalidade de Inglaterra e grande parte de França. No entanto, viria a perder a Normandia e a maior parte das possessões do Norte de França durante o reinado de João em 1204. Isto esteve na origem de divergências entre a nobreza Inglesa, ao mesmo tempo que as obrigações financeiras decorrentes da tentativa de reconquista da Normandia obrigaram o rei a assinar em 1215 a Magna Carta, um documento que limitaria o poder absoluto do rei e foi o primeiro passo de um longo processo que levaria ao parlamentarismo. Durante o reinado de Henrique III, foram feitas ainda mais concessões de poder à nobreza e diminuído o poder da corte. A monarquia francesa, no entanto, continuaria a fortalecer a sua influência perante a nobreza durante o século XIII, centralizando a administração e aumentando o número de territórios que directamente controlava. Além da sua expansão para Inglaterra, os Normandos chegaram a estabelecer colónias na Sicília e no sul de Itália, depois de Roberto de Altavila ter desembarcado no território em 1509 e estabelecido um ducado que mais tarde se tornaria o Reino da Sicília.
Na península Ibérica, os estados cristãos confinados à região noroeste do território iniciam o processo de Reconquista dos estados islâmicos no sul. Por volta de 1150, o norte cristão estava dividido em cinco reinos principais – Leão, Castela, Aragão, Navarra e Portugal. O sul da península continuava dominado pelos estados islâmicos, inicialmente pelo Califado de Córdova, que no entanto se viria a fragmentar em 1031 numa série de pequenos estados voláteis denominados taifas, que continuaram a combater os reinos cristãos até o Califado Almóada restabelecer o governo central no sul durante a década de 1170. As forças cristãs fazem novos avanços durante o início do século XIII, culminando na captura de Sevilha em 1248.

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