domingo, 24 de agosto de 2014

Irreligião

Irreligião (também referida como incredulidadeausência de religião ou pessoas sem religião) é a ausência, indiferença ou não prática de uma religião. Alguns segmentos podem posicionar-se contrários e, eventualmente, inclusive ser hostis às religiões, como pode ser o caso do anticlericalismo, do antiteísmo e da antirreligião. Quando caracterizada como indiferença à religião, inclui o apateísmo. A irreligião também consiste parcialmente na rejeição da crença religiosa, onde se insere o ateísmo e o humanismo secular. Quando caracterizada como a ausência de crença religiosa, pode incluir algumas pessoas que seriam incluídas no agnosticismo,ignosticismonão teísmodeísmopandeísmo, ceticismo religioso, livre-pensamento e a não-crença. A irreligião pode até incluir formas de teísmo dependendo do contexto religioso, como na Europa do século XVIII, onde o epítome da irreligião foi o deísmo.
Embora povos classificados como irreligiosos podem não seguir qualquer religião, nem todos necessariamente não acreditam no sobrenatural ou em deidades; assim como uma pessoa pode ser um teísta sem uma religião ou ser um não praticante. Em particular, aqueles que associam religiões organizadas com qualidades negativas, mas ainda mantêm crenças espirituais, poderiam ser descritos como irreligiosos.
Atualmente, 16% da população mundial (1,1 bilhão de pessoas) são consideradas não-religiosas. Algumas evidências sugerem que o status religioso que mais cresce nos Estados Unidos é o status denominado "sem religião."

Diferenças conceituais

O termo "sem religião" não é do agrado de todos os integrantes deste segmento. Há aqueles que preferem o termo "não-religioso" (considerado menos ofensivo), e há aqueles que preferem especificar a sua postura filosófica, identificando-se, explicitamente, como ateus, agnósticos ou deístas. O termo também pode se referir a qualquer pessoa que não se considera adepta de alguma religião formal. Não exclui a possibilidade de uma pessoa sem religião possuir uma cosmovisão religiosa. Um exemplo disso é a autora Karen Armstrong que se define como "monoteísta freelance.
Contudo, há diferenças filosóficas entre os principais grupos de não-religiosos.

Agnósticos

Os agnósticos entendem que as questões metafísicas (ou transcendentais) ou religiosas não são possíveis de análise pela razão humana. O agnóstico não tem uma crença certa nem uma descrença certa em uma divindade, mantendo que não é possível resolver o problema. Ou seja, ele é indiferente, não "rejeita", nem "aceita", a existência de Deus.

Ateus

Países lusófonos

Brasil

De acordo com o último Censo do IBGE, o Brasil tem cerca de 15 milhões de pessoas sem filiação religiosa (8% da população).
No Brasil, nos últimos anos, houve uma sensível diminuição dos católicos nominais, um aumento percentual das outras religiões, especialmente as religiões pentecostais, e a ampliação, e consolidação, de valores seculares laicos que se opõem frontalmente a um estilo de vida religioso.
De fato, isso tem causado mudanças na sociedade brasileira, até então adaptada a uma hegemonia quase incontestável da Igreja Católica Romana. Era o catolicismo romano, outrora, a principal formuladora da ética e da moral social. Contudo, atualmente, ela vem sendo cada vez mais questionada no tocante a sua ideologia religiosa. Dentro desta perspectiva, surgem novas formas de codificar a moral, a ética, e de experimentar o "mundo transcendental".
No Brasil, ainda há certo constrangimento das pessoas (em especial, nas classes menos abastadas) de se afirmarem, socialmente, como sem religião ou não-religiosos.] Embora a maior parte da população seja nominalmente católica, muitos declaram-se católicos mas raramente participam dos serviços religiosos.

Legislação

Cquote1.svgArtigo 5° (Caput).
IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
Artigo 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I- estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
Cquote2.svg
— Constituição brasileira de 1988
Constituição brasileira de 1988 instituiu uma total divisão entre a religião (seja ela qual for) e o Estado, consolidando o conceito de Estado Laico. O governo instituído, democraticamente, não pode favorecer, nem interditar, as atividades de qualquer religião alguma ou qualquer deus ou deuses. Além disso, não pode impor uma religião específica aos seus cidadãos, nem discriminá-los em razão de não seguirem a ideologia religiosa majoritária ou mesmo de não seguir nenhuma religião. Tal princípio constitucional, o conceito de Estado Laico, já é antigo no Brasil, a Constituição de 1891 já o havia instituído:
Cquote1.svgArtigo 72 (Caput)
§7°- Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência ou aliança com o Governo da União ou dos Estados.
Cquote2.svg
— Constituição Republicana de 1891

África lusófona

Nos países lusófonos da África, o catolicismo é predominante, mas divide espaço com as religiões pentecostais, e as crenças nativas, em AngolaCabo VerdeMoçambique, e São Tomé e Príncipe, havendo algum sincretismo religioso. Em Guiné-Bissau, o catolicismo é bem minoritário, e as crenças nativas e o islamismo predominam. A liberdade religiosa é garantida pela Constituição destes países, bem como o conceito de Estado laico. A posição religiosa dos políticos costuma ser pouco importante para os eleitores, e cresce a secularização dos costumes sócio-culturais.

Ásia lusófona

Em Macau, na China, predomina o budismo, com a presença de minorias católicas e protestantes. No estado indiano de Goa, o catolicismo é minoritário. Contudo, há um conjunto arquitetônico de Igrejas e Conventos de Goa , que são consideradas pela Unesco como de relevância histórica. Também há liberdade religiosa, que é garantida por lei, sendo o papel da religião secundário. Em Macau, há um sincretismo entre o budismo e crenças populares chinesas, e nenhuma interferência religiosa nos assuntos típicos do Estado (como preconiza o Partido Comunista Chinês).
Os ateus não crêem na existência de qualquer deus. Ateus podem ser materialistas, isto é, não acreditam na existência de deus algum, nem da alma humana, nem qualquer outro tipo de coisa que não seja material, ou podem não acreditar na existência de deus(es) podendo eventualmente aceitar certas idéias imateriais como a alma humana. Ateísmo não é religião, mas algumas religiões como o jainismo e o budismo também não acreditam na existência de deus(es).

Deístas

Os deístas acreditam na existência de um ser superior (ou deus), e defendem que a existência de deus pode ser compreendida por intermédio da razão. Contudo, os deístas não seguem qualquer religião denominacional. Para o deísta, as pessoas devem assumir a responsabilidade pelos seus atos, e procurarem a felicidade nesta vida terrena, ao invés de aceitarem os tormentos das injustiças sociais em procura de uma vida eterna de caráter duvidoso. Os conceitos de "inspiração" e "revelação divina" não são negados, mas o deísta duvida realmente a pessoa a recebeu.

domingo, 10 de agosto de 2014

Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki

Os Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki foram ataques nucleares ocorridos no final da Segunda Guerra Mundial contra o Império do Japão realizados pela Força Aérea dosEstados Unidos da América na ordem do presidente americano Harry S. Truman nos dias 6 de agosto e 9 de agosto de 1945. Após seis meses de intenso bombardeio em 67 outras cidades japonesas, a bomba atômica "Little Boy" caiu sobre Hiroshima numa segunda-feira. Três dias depois, no dia 9, a "Fat Man" caiu sobre Nagasaki. Historicamente, estes são até agora os únicos ataques onde se utilizaram armas nucleares. As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil apontam para um número total de mortos a variar entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação. A maioria dos mortos eram civis.
As explosões nucleares, a destruição das duas cidades e as centenas de milhares de mortos em poucos segundos levaram o Império do Japão à rendição incondicional em 15 de agosto de1945, com a subsequente assinatura oficial do armistício em 2 de setembro na baía de Tóquio e o fim da II Guerra Mundial.
O papel dos bombardeios atômicos na rendição do Japão, assim como seus efeitos e justificações, foram submetidos a muito debate. Nos EUA, o ponto de vista que prevalece é que os bombardeios terminaram a guerra meses mais cedo do que haveria acontecido, salvando muitas vidas que seriam perdidas em ambos os lados se a invasão planejada do Japão tivesse ocorrido.

O Projeto Manhattan

Os Estados Unidos, com auxílio do Reino Unido e Canadá, projetaram e construíram as bombas sob o nome de código Projeto Manhattan inicialmente para o uso contra a Alemanha NazistaO primeiro dispositivo nuclear, chamado Gadget, foi testado em Los Alamos, no Novo México, a 16 de Julho de 1945. As bombas de Hiroshima e Nagasaki foram a segunda e terceira a serem detonadas e as únicas que já foram empregadas como armas de destruição em massa.
Hiroshima e Nagasaki não foram as primeiras cidades do Eixo a serem bombardeadas pelas forças Aliadas, nem foi a primeira vez que tais bombardeamentos causaram um grande número de mortes civis e foram (ou, antes, viriam a ser) considerados controversos.
O bombardeamento de Tóquio em março de 1945 pode ter matado até 100 mil pessoas. Cerca de 60 cidades japonesas tinham, a essa altura, sido destruídas por uma campanha aérea massiva, incluindo grandes ataques aéreos na capital e em Kobe. Na Alemanha, o bombardeio Aliado de Dresden teve como resultado quase 30 mil mortes.
Ao longo de três anos e meio de envolvimento direto dos E.U.A. na II Guerra Mundial, aproximadamente duzentas mil vidas estado-unidenses tinham sido perdidas, cerca de metade das quais na guerra contra o Japão. Nos meses anteriores aos bombardeios, daBatalha de Okinawa resultaram as mortes de 50-150 mil civis, 100-110 mil militares japoneses e cerca de 16 mil soldados dos EUA. Esperava-se que uma invasão do Japão traria um número de baixas muitas vezes superior àquele de Okinawa.
A decisão de jogar as bombas sobre o Japão foi tomada pelo então Presidente Harry Truman, que havia substituído havia poucos meses no cargo o falecido Franklin Delano Roosevelt. A sua intenção pública de ordenar os bombardeamentos foi de trazer um fim célere à guerra por inflicção de destruição e terror de subsequente destruição, obrigando o Japão a apresentar a sua rendição. Em 26 de Julho, Truman e outros líderes aliados redigiram a Declaração de Potsdam, a qual delineava os termos da rendição do Japão:
Cquote1.svg…O poder que agora converge sobre o Japão é incomensuravelmente superior ao que, quando aplicado ao Nazis resistentes, semeou de forma necessária a destruição pelas terras, pela indústria e forma de vida de todo o povo alemão. A plena aplicação do nosso poder militar, apoiado pela nossa determinação, significará a inevitável e completa destruição das forças armadas japonesas e a igualmente inevitável e completa devastação da pátria japonesa…Cquote2.svg
Cquote1.svg…Apelamos ao Governo do Japão que proclame agora a rendição incondicional de todas as suas forças armadas e o fornecimento de garantias próprias e adequadas da sua boa fé em tal acção. A alternativa para o Japão é a rápida e total destruição."Cquote2.svg
No dia seguinte, jornais japoneses noticiavam que a declaração, cujo texto tinha sido radiodifundido e largado em papéis sobre o Japão, tinha sido rejeitada. A bomba atômica era ainda um segredo fortemente guardado e não mencionado na declaração.

Escolha dos alvos

Mapa mostrando a localização deHiroshima e Nagasaki no Japão, onde as duas armas atômicas foram usadas.
A escolha dos "Alvos" foi feita a partir de interesses militares, mas sobretudo de cunho político-econômico, pois Hiroshima e Nagasaki eram as regiões mais desenvolvidas industrialmente do Japão na época, e com a chegada do fim da Segunda Guerra, o Japão seria a única potência que poderia desequilibrar o fluxo de capitais e mercadorias, por isso se escolheu estes como alvo.
O Conselho de Alvos (em inglêsTarget Committee) de Los Alamos recomendou, a 10 e 11 de Maio de 1945, as cidades de KyotoHiroshimaYokohama e o arsenal em Kokura como possíveis alvos. O Conselho rejeitou o uso da arma contra um alvo estritamente militar devido à hipótese de falhar um pequeno alvo que não fosse rodeado por uma grande área urbana.
Os efeitos psicológicos no Japão eram de enorme importância para os membros do Conselho. Também concordaram entre si que o uso inicial da arma deveria ser suficientemente espectacular e importante por forma a ser reconhecido internacionalmente. O Conselho sentiu que Kyoto, sendo um dos centros intelectuais e religioso do Japão, tinha uma população "melhor preparada para compreender o significado da arma". Hiroshima foi escolhida devido à sua grande dimensão e ao potencial de destruição que poderia demonstrar após ser atingida.
O Secretário da Guerra Henry Stimson excluiu Kyoto da lista devido à sua importância cultural e religiosa, enfrentando objecções do General Leslie Groves, administrador do Projecto Manhattan. De acordo com o professor Edwin Reischauer, Stimson "tinha conhecido e admirado Kyoto desde a altura em que aí tinha passado a sua lua-de-mel, várias décadas antes". O comandante da Força Aérea,Carl Spaatz, elegeu Hiroshima, Kokura, Niigata eNagasaki como alvos, pela ordem indicada.

Hiroshima

Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial

Enola Gay e a sua tripulação, que lançou a bomba atômica "Little Boy"sobre Hiroshima.
Na época do seu bombardeamento, Hiroshima era uma cidade de considerável valor industrial. Alguns aquartelamentos militares estavam localizados nas suas imediações, tais como os quartéis-generais da Quinta Divisão e o 2º Quartel General do Exército Geral do Marechal-de-Campo Shunroku Hata, o qual comandou a defesa de todo o sul do Japão. Hiroshima era considerada uma base menor de pouca importância de fornecimentos e de logística para os militares japoneses. A cidade era, com efeito, um centro de comunicações, um ponto de armazenamento, e uma zona de reunião para tropas. Era uma das cidades japonesas deixadas deliberadamente intocadas pelos bombardeamentos estado-unidenses, proporcionando um ambiente perfeito para medir o dano causado pela bomba atómica na luz do dia.
Uma cópia exata da bomba Little Boy, no pós-guerra.
.O centro da cidade continha vários edifícios de betão armado e outras estruturas mais ligeiras. A área à volta do centro estava congestionada por um denso aglomerado de oficinas demadeira, construídas entre as casas japonesas. Algumas fábricas de maior dimensão estavam estabelecidas no limite urbano. As casas eram, na sua maioria, de madeira com topos detelha, sendo também de madeira vários dos edifícios fabris. A cidade era assim, no seu todo, extremamente susceptível a danos por fogo.
população tinha atingido um máximo de mais de 380.000 pessoas no início da guerra, mas antes de agosto de 1945 tinha já começado a diminuir firmemente, devido a uma evacuação sistemática ordenada pelo governo japonês. Na época do ataque, o número de habitantes era de aproximadamente 255.000 pessoas. Este número é baseado no registo populacional que o governo de então utilizava para calcular o número de rações, pelo que as estimativas de trabalhadores e tropas adicionais que entravam na cidade poderão ser para sempre inexatas.

O bombardeamento

Nuvem em forma de cogumelo formada após a explosão da bomba atômica sobre o centro da cidade de Hiroshima, Japão.
Hiroshima foi o alvo principal da primeira missão de ataque nuclear dos E.U.A., a 6 de Agosto de 1945. O B-29 Enola Gay, nome da mãe do piloto, Coronel Paul Tibbets, decolou da base aérea de Tinian no Pacífico Oeste, a aproximadamente 6 horas de voo do Japão.
O dia 6 foi escolhido por ter havido anteriormente alguma formação de nuvens sobre o alvo. Na altura da decolagem, o tempo estava bom e tanto a tripulação como o equipamento funcionaram adequadamente. O capitão daMarinha William Parsons armou a bomba durante o voo, já que esta se encontrava desarmada durante a descolagem para minimizar os riscos. O ataque foi executado de acordo com o planejado até ao menor detalhe, e abomba de gravidade, uma arma de fissão de tipo balístico com 60 kg de urânio-235, comportou-se precisamente como era esperado.
Cerca de uma hora antes do bombardeamento, a rede japonesa de radar de aviso prévio detectou a aproximação de um avião americano em direção ao sul do Japão. O alerta foi dado e a radiodifusão foi suspensa em várias cidades, entre elas Hiroshima.
Fotografia de Hiroshima após o bombardeamento.
O avião aproximou-se da costa a grande altitude. Cerca das 8h, o operador de radar em Hiroshima concluiu que o número de aviões que se aproximavam era muito pequeno — não mais do que três, provavelmente — e o alerta de ataque aéreo foi levantado. Para poupar combustível, os japoneses tinham decidido não interceptar formações aéreas pequenas, as quais presumiam ser, na sua maioria, aviões meteorológicos. Os três aviões em aproximação eram o Enola GayThe Great Artist (em português, "O Grande Artista") e um terceiro avião sem nome na altura mas que viria a ser mais tarde batizado de Necessary Evil ("Mal Necessário"). O primeiro avião transportava a bomba, o segundo tinha como missão gravar e vigiar toda a missão, e o terceiro foi o avião encarregado de fotografar e filmar a explosão.
Foto que mostra o Enola Gay pousando na ilha Tinian, após o bombardeio no Japão.
No aviso radiodifundido foi dito às populações que talvez fosse aconselhável recolherem aos abrigos antiaéreos caso os B-29 fossem realmente avistados, embora nenhum ataque fosse esperado para além de alguma missão de reconhecimento. Às 8h15min, o Enola Gay largou a bomba nuclear sobre o centro de Hiroshima. Ela explodiu a cerca de 600 metros do solo, com uma explosão de potência equivalente a 13 kton de TNT, matando um número estimado de 70.000 a 80.000 pessoas instantaneamente. Pelo menos 11 prisioneiros de guerrados E.U.A. morreram também.13 Os danos infraestruturais estimam-se em 90% de edifícios danificados ou completamente destruídos.

Percepção japonesa do bombardeamento

Hiroshima antes do bombardeamento.
Hiroshima depois do bombardeamento.
O operador de controle da Japanese Broadcasting Corporation, em Tóquio, reparou que a estação de Hiroshima tinha saído do ar. Ele tentou restabelecer o seu programa usando outra linha telefónica, mas esta também falhou. Cerca de vinte minutos mais tarde, o centro telegráfico de Tóquio verificou que a principal linha telegráfica tinha deixado de funcionar logo ao norte de Hiroshima. De algumas pequenas estações de caminho-de-ferro a menos de 16 km da cidade chegaram notícias não oficiais e confusas de uma terrível explosão em Hiroshima. Todas estas notícias foram transmitidas para o Quartel General do Estado-Maior japonês.
Bases militares tentaram repetidamente chamar a Estação de Controle do Exército em Hiroshima. O silêncio completo daquela cidade confundiu os homens do Quartel-General; eles sabiam não ter ocorrido qualquer grande ataque inimigo e que não havia uma grande quantidade de explosivos em Hiroshima naquela altura. Um jovem oficial do Estado-Maior japonês foi instruído para que voasse imediatamente a Hiroshima para aterrar, observar os danos, regressar a Tóquio e apresentar ao Estado-Maior informação fiável. A opinião mais ou menos geral, no Quartel-General, era de que nada de importante ocorrera, que tudo não passava de um terrível rumor deflagrado por algumas centelhas de verdade.
O oficial dirigiu-se ao aeroporto e descolou em direcção a sudoeste. Após voar durante aproximadamente três horas, ainda a uma distância de 160 km de Hiroshima, ele e o seu piloto viram uma imensa nuvem de fumo da bomba. Na solarenga tarde, os restos de Hiroshima ardiam. O avião em breve chegou à cidade, à volta da qual ambos fizeram círculos sem acreditar no que viam. Uma grande cicatriz no solo ainda a arder, coberto por uma pesada nuvem de fumo, era tudo o que restava. Aterraram a sul da cidade e o oficial, após contactar com Tóquio, começou imediatamente a organizar medidas de socorro.
Maquete de Hiroshima antes do bombardeamento.
Maquete de Hiroshima depois do bombardeamento.
O conhecimento por parte de Tóquio do que realmente tinha causado o desastre veio do anúncio público da Casa Branca, em Washington, dezesseis horas após o ataque nuclear a Hiroshima.14
O envenenamento por radiação e/ou necrose causaram doença e morte após o bombardeamento em cerca de 1% dos que sobreviveram à explosão inicial. Até ao final de 1945, mais alguns milhares de pessoas morreram devido ao envenenamento por radiação, aumentando o número de mortos para cerca de 90.000. Desde então, cerca de mais 10.000 pessoas morreram devido a causas relacionadas à radiação.
De acordo com a cidade de Hiroshima, a 6 de Agosto de 2005, o número total de mortos entre as vítimas do bombardeamento era de 242.437. Esse valor inclui todas as pessoas que estavam na cidade quando a bomba explodiu, ou que foram, mais tarde, expostas acinza nuclear e, consequentemente, morreram.
Segue o depoimento Sumie Kuramoto, que presenciou o ataque aos dezesseis anos de idade:
Cquote1.svgNunca esquecerei esse momento. Pouco depois das 8 da manhã, houve um estrondo, uma explosão reverberante e, no mesmo instante, um clarão de luz amarelo-alaranjado entrou pelo vidro do telhado. Ficou tudo tão escuro como noite. Um golpe de vento atirou-me no ar e a seguir no chão, contra as pedras. A dor estava apenas brotando quando o prédio começou a ruir em torno de mim.Cquote2.svg
Cquote1.svgAos poucos o ar se aclarou e eu consegui sair dos destroços. No caminho para um dos centros de emergência vi muita confusão. As ruas estavam tão quentes que queimavam meus pés. Casas ardiam, os trilhos de bonde irradiavam uma luz sinistra e no local de um templo pessoas se amontoavam. Algumas respiravam, a maioria estava imóvel. No pronto-socorro chegava gente correndo, as roupas rasgadas, chorando, gritando. Alguns tinham o rosto ensanguentado e inchado, outros tinham a pele queimada caindo aos frangalhos de seus braços e pernas. Em um bonde vi fileiras de esqueletos brancos. Havia também os ossos de pessoas que tentaram fugir. Hiroshima tinha se tornado num verdadeiro inferno."Cquote2.svg

Sobrevivência de algumas estruturas

A "Cúpula Genbaku" atualmente.
Alguns dos edifícios de concreto armado reforçado de Hiroshima foram construídos tendo em mente o perigo, sempre presente, de terramotos (ou terremotos), pelo que, muito embora estivessem localizados no centro da cidade, a sua hiperestrutura não colapsou. Como a bomba detonou no ar, a onda de choque foi orientada mais na vertical (de cima para baixo) do que na horizontal, fator largamente responsável pela sobrevivência do que é hoje conhecido por "Cúpula Genbaku", ou "Cúpula da Bomba Atómica", projectada e construída pelo arquiteto checo Jan Letzel, a qual estava a apenas a 150 m do hipocentro da explosão. A ruína foi chamada de Memorial da Paz de Hiroshima e foi tornada Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1996, decisão que enfrentou objecções por parte dos E.U.A. e da China.

Eventos de 7 a 9 de Agosto

Um minuto depois da meia-noite de 9 de Agosto, hora de Tóquio, a infantariacavalaria e força aérea russas lançaram a invasão da Manchúria. Quatro horas mais tarde, as notícias de que a União Soviética tinha quebrado o seu pacto de neutralidade e declarado guerra ao Japão chegaram a Tóquio. O corpo de líderes do Exército Imperial Japonês recebeu a notícia com quase indiferença, subestimando grosseiramente a escala do ataque. Com o suporte do Ministro da Guerra, Anami Korechika, iniciaram os preparativos para impôr a lei marcial na nação com o objectivo de impedir que alguém tentasse fazer a paz.Após o bombardeamento a Hiroshima, o Presidente Truman anunciou: "Se eles não aceitam os nossos termos, podem esperar uma chuva de ruína vinda do ar nunca antes vista nesta terra." A 8 de Agosto de 1945, panfletos foram largados e avisos foram dados por intermédio da Rádio Saipan. A campanha de panfletos já durava cerca de um mês quando estes foram largados sobre Nagasaki, a 10 de agosto.20 Uma tradução em língua inglesa desse panfleto está disponível em PBS.21

Nagasaki

Nagasaki durante a 2ª Guerra Mundial

Bockscar e sua tripulação, que lançou a bomba atômica "Fat Man"sobre Nagasaki.
A cidade de Nagasaki tinha, até à altura, sido um dos maiores e mais importantes portos de mar do sul do Japão, sendo, por isso, de grande importância em tempo de guerra devido à sua abrangente actividade industrial, incluindo a produção de canhões e munições, navios, equipamento militar, e outros materiais de guerra.
Em contraste com os vários aspectos modernos de Nagasaki, a grande maioria das residências era de construção japonesa antiquada, sendo a madeira a principal matéria-prima. Era frequente nem ser sequer usada argamassa na sua construção, e os telhados eram de telha simples. Muitos dos edifícios que albergavam a pequena indústria eram também feitos de madeira ou de outros materiais não concebidos para suportar explosões. Foi permitido a Nagasaki, durante muitos anos, crescer sem obedecer a um plano urbanístico; as residências eram construídas junto a edifícios de fábricas, sendo o espaço entre os edifícios mínimo. Esta situação repetia-se maciçamente por todo o vale industrial.
Até à explosão nuclear, Nagasaki nunca tinha sido submetida a bombardeamentos de larga escala. A 1 de Agosto de 1945, no entanto, várias bombas convencionais de elevada potência foram largadas sobre a cidade. Algumas delas atingiram os estaleiros e docas do sudoeste da cidade. Várias outras atingiram a Mitsubishi Steel and Arms Works e 6 bombas caíram na Escola de Medicina e Hospital de Nagasaki, com três impactos directos nos seus edifícios. Embora os danos destas bombas tenha sido relativamente pequeno, criou preocupação considerável em Nagasaki, tendo várias pessoas - principalmente crianças da escola -, por uma questão de segurança, sido evacuadas para áreas rurais reduzindo, assim, a população da cidade por altura do ataque nuclear.
Modelo pós-guerra da bomba Fat Man.
A norte de Nagasaki existia um campo de prisioneiros de guerra britânicos. Estes encontravam-se a trabalhar em minas de carvão, pelo que apenas se inteiraram acerca do bombardeamento quando retornaram à superfície. Para eles, foi a bomba que lhes salvou as suas vidas.
No entanto, pelo menos 8 prisioneiros pereceram, embora um número de até 13 possa ser possível e outros possivelmente linchados pela população:
  • 1 britânico (esta última referência lista também pelo menos 3 outros prisioneiros que morreram a 9 de Agosto de 1945 mas não refere se foram baixas de Nagasaki)
  • 7 holandeses (2 nomes conhecidos) morreram no bombardeamento.
  • Pelo menos 2 prisioneiros, de acordo com o reportado, morreram no pós-guerra devido a câncro que se supõe ter sido causado pelo bombardeamento atômico

O bombardeamento

Nagasaki antes e após o ataque.
Na manhã de 9 de Agosto de 1945, a tripulação do avião dos E.U.A. B-29 Superfortress, baptizado de Bockscar, pilotado pelo Major Charles W. Sweeney e carregando a bomba nuclear de nome de código Fat Man, deparou-se com o seu alvo principal, Kokura, obscurecido por nuvens.Após três vôos sobre a cidade e com baixo nível de combustível devido a problemas na sua transferência, o bombardeiro dirigiu-se para o alvo secundário, Nagasaki — a maior comunidade cristã do Japão. Cerca das 7h50min (fuso horário japonês) soou um alerta de raide aéreo em Nagasaki, mas o sinal de "tudo limpo" (all clear, em inglês) foi dado às 8h30min. Quando apenas dois B-29 foram avistados às 10h53min, os japoneses aparentemente assumiram que os aviões se encontravam em missão de reconhecimento, e nenhum outro alarme foi dado.
Alguns minutos depois, às 11h, o B-29 de observação, baptizado de The Great Artist (em português "O Grande Artista"), pilotado pelo Capitão Frederick C. Bock, largou instrumentação amarrada a três pára-quedas. Esta continha também mensagens para o Professor Ryokichi Sagane, um físico nuclear da Universidade de Tóquio que tinha estudado na Universidade da Califórnia com três dos cientistas responsáveis pelo bombardeamento atómico. Estas mensagens, encorajando Sagane a falar ao público acerca do perigo destas armas de destruição maçica, foram encontradas pelas autoridade militares, mas nunca entregues ao acadêmico.
Um relato japonês do bombardeamento descreveu Nagasaki como "um cemitério sem uma única lápide de pé.".
Às 11h02min, uma aberta de última hora nas nuvens sobre Nagasaki permitiu ao artilheiro do Bockscar, Capitão Kermit Beahan, ter contacto visual com o alvo. A arma Fat Man, contendo um núcleo de aproximadamente 6,4 kg de plutónio-239, foi largada sobre o vale industrial da cidade. Explodiu 469 metros acima do solo, a cerca de meio caminho entre a Mitsubishi Steel and Arms Works (a sul) e a Mitsubishi-Urakami Ordnance Works (a norte), os dois principais alvos na cidade. De acordo com a maior parte das estimativas, cerca de 40.000 dos 240.000 habitantes de Nagasaki foram mortos instantaneamente, e entre 25.000 a 60.000 ficaram feridos. No entanto, crê-se que o número total de habitantes mortos poderia ter atingido os 80.000, incluindo aqueles que morreram, nos meses posteriores, devido a envenenamento radiativo.

A rendição do Japão

Entre os historiadores ocidentais, em particular os norte-americanos, está difundida a opinião de que “as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki puseram fim à Segunda Guerra Mundial”. Sem negar o importante efeito psicológico que tiveram os bombardeios atômicos, que precipitaram a capitulação do Japão, ao mesmo tempo não se pode aceitar que eles tenham sido os responsáveis pelo final da guerra. Eminentes políticos do ocidente também reconheciam isso. Por exemplo, Churchill dizia:
Cquote1.svgSeria errado supor que o destino do Japão tenha sido determinado pela bomba atômica.Cquote2.svg
ministro das relações exterioresdo Japão Mamoru Shigemitsuassinando a rendição do Japão a bordo do USS Missouri enquanto o general Richard K. Sutherland observa. Foto de 2 de setembro de 1945.
Os fatos provam que o bombardeio atômico não levou à capitulação do Japão. O governo e o alto comando japoneses ocultaram do povo a notícia do uso da nova arma, atômica, pelos norte-americanos e continuaram preparando a batalha decisiva em seu território. O bombardeio de Hiroshima não foi debatido na reunião do Conselho Supremo do Comando de Guerra.
A advertência do presidente dos Estados UnidosHarry Truman, sobre sua disposição de assestar novos golpes nucleares contra o Japão, transmitida em 7 de agosto de 1945 pelo rádio norte-americano, foi avaliada pelo alto comando japonês como “propaganda dos aliados”.
Ainda depois de Hiroshima ter sido reduzida a cinzas pelo fogo atômico, os militares japoneses continuaram afirmando que o Exército e a Marinha de Guerra imperiais eram capazes de continuar combatendo e, ao infligirem um sério dano ao adversário, poderiam assegurar ao Japão condições decentes de capitulação.
Segundo cálculos do Estado Maior norte-americano, para garantir a cobertura dos desembarques nas ilhas nipônicas seria preciso lançar nove bombas atômicas, no mínimo. Mas segundo se soube mais tarde, depois de destruídas Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos não tinha outras bombas atômicas disponíveis, e sua fabricação levaria muito tempo, só sendo novamente explodidos artefatos nucleares nos testes nucleares da Operação Crossroads, no verão de 1946.
“As bombas que lançamos eram as únicas de que dispúnhamos, e a velocidade de sua fabricação era muito lenta naquele tempo”, escreveria o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Stimson.
É evidente que com os bombardeios atômicos de cidades japonesas não se perseguiu nenhum objetivo militar importante. O general MacArthur, que durante a guerra teve sob seu comando as tropas aliadas no oceano Pacífico, reconheceria em 1960:
Cquote1.svgNão havia nenhuma necessidade militar de empregar a bomba atômica em 1945.Cquote2.svg
Tentando encobrir as reais finalidades do bombardeio atômico, Truman declarou em 9 de agosto de 1945 que o golpe atômico foi assestado “contra a base militar de Hiroshima” com a finalidade de “evitar vítimas entre a população civil”.